quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Mitos do passado - Parte I

Moacir Barbosa Nascimento, o famoso Barbosa, foi um mito, um ídolo e um espelho. Hoje muitos goleiros se inspiram em quem foi o grande goleiro Barbosa. Como todos o caracterizavam, um goleiro seguro e elástico. Um jogador que não temia seus adversário. Um ídolo da torcida vascaína, porque não da brasileira?

Barbosa foi o melhor e pior jogador da Copa de 1950. Um herói até a final, um vilão o resto da vida. Moacir foi um dos mais injustiçados brasileiros e o pior, nós a pátria que ele defendeu botamos culpa em um atleta que não teve culpa. Para muitos, Barbosa falhou na final da Copa do Mundo do Brasil. Eram 200 mil lugares lotados, eram 200 mil pessoas chorando após a partida no Maracanã. Que culpa teve Barbosa? Mesmo que tivesse falhado, como pode uma nação botar tal culpa em cima de uma pobre pessoa. E sinceramente ele não falhou. Se der uma lista a cada brasileiro para por os 5 melhores goleiro da história, muitos não colocarão ele. Porque? Porque para muitos ele acabou com sonho brasileiro. Talvez o sonho tenha sido perdido na véspera na declaração do general Ângelo Mendes de Morais quando falou sobre a obrigação de vencer. “Cumpri minha promessa construindo esse estádio. Agora fazei vosso dever, ganhando a Copa do Mundo. Frase utilizada pelo uruguaio Obdulio Varela para motivar seus colegas.

Os brasileiros esquecem Ghigghia, o atacante uruguaio. Por 2 oportunidades deixou Bigode perdido em campo e fez os gols. Para que culparmos o fantástico goleiro que nos levou até aquela final, se o uruguaio foi espetacular? Procuramos falhas e não acertos do outro lado.

O arqueiro que aos 20 anos iniciou sua carreira no Ypiranga. Ele levou o time da capital paulista a ser quarto colocado de um Campeonato Paulista e foi considerado um dos 3 melhores goleiros de São Paulo em 1943. Esse é o Barbosa. Em 1944, foi para o Vasco, porém só virou titular em 1946. A partir dessa data, Vasco sem Barbosa no gol não existia. Na equipe cruzmaltina, ganhou 8 títulos, entre eles 5 Cariocas. Mas o mais importante foi o Sul-Americano de Campeões. Barbosa fez uma atuação espetacular naquele empate contra o River Plate. Os vascaínos devem lembrar do pênalti que o goleiro pegou. Em 1956, seu time foi o Santa Cruz (PE) e depois voltou ao Rio, agora no Bonsucesso, mas voltou ao Vasco em menos de 2 anos. Em 1962 foi até o Campo Grande (RJ) e se aposentou.

O rei das luvas não seria um termo adequado para Barbosa, o goleiro jogava sem luvas, e foi assim até seu 42 anos quando abandonou o futebol. Essa aventura de jogar sem o material fundamental para um goleiro lhe deu 6 fraturas na mão esquerda e 5 na direita. Sua primeira atuação pelo Brasil foi em 1945. O goleiro ao falar da sua estréia na seleção canarinho disse. “Quando ele disse meu nome, como primeiro da lista dos que iam entrar em campo, o zagueiro Domingos da Guia disse que mudei de cor quatro vezes, fiquei amarelo, azul, branco e preto de novo”. Uma estréia ruim, uma derrota por 4x3 para a Argentina e vaias ao ser substituído no intervalo.

Orlando Duarte ao falar sobre aquela Copa lembrou as incoerências de nossa sociedade. “ Pra você ver a ironia, ele foi escolhido, e com justiça, o melhor goleiro daquela Copa, independente daquele gol”. Poderia ter ido a Copa de 54, mas uma lesão em 53 em partida contra o Botafogo o tirou da Copa.

Barbosa sempre reclamava sobre a pena que cumpria. “A pena máxima de um presidiário no Brasil é 30 anos, eu que não cometi crime algum pago à 50 anos”, dizia o goleiro. Em 1999, recebeu do vereador Roberto Dinamite o título de cidadão honorário da capital fluminense. Nessa festa, Eurico Miranda soube como Barbosa vivia situações precárias em Praia Grande e ajudou o atleta, dando-lhe uma mensalidade e um apartamento.

Em abril de 2000, Barbosa nos deixou. O maior ídolo dos gols brasileiros faleceu com insuficiência respiratória aguda. Muitos o guardam na memória, mas deveriam guardar como ídolo. Tenho certeza que muitos não conseguiram pedir desculpa a Barbosa a tempo. A culpa de uma derrota não pode ser de 1 pessoa em um grupo grande. Um mito nos deixou a mais de 7 anos e apesar da injustiça, morreu serenamente, segundo sua amiga Tereza Borba.

O mestre Armando Nogueira ao falar sobre Barbosa, resumiu a história da estrela ofuscada por injustiça. "Certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Ghigghia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição. E quanto mais vejo o lance, mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera". 21 anos de carreira, foi o tempo que muitos brasileiros tiveram pra ver o maior goleiro da nossa história. 79 anos foi o tempo que viveu um herói que por muitos foi julgado como vilão. Talvez apareça um dia algum como ele e o Brasil lembre-se da maior injustiça cometida.



Fotos:
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http://www.netvasco.com.br/mauroprais/images/vasco48_barbosa.jpg

Um comentário:

Natascha Ariceto disse...

E foda ver o quanto eh verdade aquela velha historia de "um ato errado apaga todos os bons de toda a vida".

Pior ainda eh ver quanta gente pensa assim. O melhor é descobrir que ainda existem aqueles que confiam nas pessoas.

o que dizer do texto?
com emoçao. e nao pq vc falou. pq vc deixou totalmente claro a sua opinião e sua sensibilidade. Siiim voce eh sensivel! ehehehe

adorei
beijo